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A História de Napoleão Bonaparte: da infância à liderança da França.

Napoleão Bonaparte nasceu em Ajaccio na Córsega em 1769 e se tornou um dos mais influentes políticos e militares da história. Ele saiu da ilha em que nasceu ainda novo, fez os seus estudos em escolas da alta aristocracia francesa e começou a se destacar com o início da Revolução Francesa. Em 1799, ocorreu o famoso golpe de 18 de Brumário que o tornou cônsul. Em 1804, coroado imperador, alcançou o ápice de sua carreira e impactou toda a França. É sobre como Napoleão saiu de uma criança na Córsega à líder dos franceses que vou falar neste artigo.

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Napoleão Bonaparte tornou-se símbolo de sucesso ao longo da História. Não são poucas as comparações feitas com o nome do personagem em diferentes setores da vida. “Eu sou o Napoleão dos negócios” ou “o Napoleão dos carros”.


Na Revolução do Haiti, o líder político e militar Toussaint Louverture, escreveu uma carta direcionada a Napoleão Bonaparte onde ele endereçava da seguinte forma “do primeiro dos negros ao primeiro dos brancos”, ou seja, reconhecia a posição de liderança global de Napoleão e usava essa comparação para fortalecer a sua própria posição.


Esse é um dos vários exemplos existentes de pessoas que desempenharam funções estratégicas de liderança, ou almejavam tal coisa, e encontraram em Napoleão uma fonte de inspiração.


Porém, Bonaparte não nasceu no topo de uma hierarquia governamental. E a sua própria imagem de sucesso e enaltecimento de certas características é fruto de um trabalho posterior da trajetória de vida desse homem.


Neste artigo veremos alguns aspectos dessa imagem construída sobre Napoleão e como foram os processos da sua biografia que o levaram de uma criança da alta nobreza de uma pequena ilha dominada pela França a líder máximo dos franceses.

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A Infância de Napoleão Bonaparte

Napoleão nasceu em 1769 na Ilha da Córsega, na cidade de Ajaccio, em um momento de grande efervescência política. A ilha sempre foi palco de intensas disputas políticas e, no ano do nascimento de Bonaparte, havia sido conquistada pelos franceses após 13 anos de independência.


Tempos antes, a ilha havia pertencido à Itália, por isso Napoleão carregava em sua fala o sotaque italiano e tinha em seu nome a marca desse passado próximo: Napoleone di Buonaparte. Os Bonaparte habitavam uma boa casa na rua São Carlos, próximo à catedral de Notre-Dame.


O seu pai era Carlo Bonaparte e sua mãe a Letizia Bonaparte, além disso, Napoleão possuía sete irmãos. Ao todo, ficavam assim a ordem de nascimento deles:

  1. José (1768).

  2. Napoleão (1769).

  3. Luciano (1775).

  4. Elisa (1777).

  5. Luís (1778).

  6. Paulina (1780).

  7. Carolina (1782).

  8. Jerônimo (1784).

Napoleão vivia cercado de mulheres. Tinha a Minana, sua avó materna, a Saveria, sua avó paterna, Geltrude, que era sua tia, sua mãe Letizia e sua babá Camilla Ilari.


Ele foi tão grato à existência dessa babá que, quando tornou-se imperador, organizou um encontro privado dela com o Papa Pio VIII.

Contudo, foi em seu pai que ele encontrou uma das grandes influências políticas. Carlo Bonaparte aproximou-se intensamente de uma líder nacionalista e revolucionário conhecido como Paoli. Essa relação impactou Napoleão para sempre.


A relação dos Bonapartes com a Política

Paoli era um líder corso que tinha ideias fortemente nacionalista, bem alinhadas à tendência do final do século XVIII. Ele liderou um movimento que foi capaz de separar a Córsega da França durante 13 anos. Durante todo esse tempo, o pai de Napoleão, Carlo Bonaparte, foi fiel a Paoli.


Apenas em 1769 que a Córsega foi dominada na batalha de Ponte Nuevo. Carlo Bonaparte conseguiu se reposicionar e trabalhar para o governo francês, enquanto Paoli foi exilado para a Inglaterra.


A formação política de Napoleão

Em sua casa, Carlo Bonaparte possuía uma biblioteca com mais de 1000 livros que eram explorados por seus filhos José e Napoleão. O interesse do pai pela política e os constantes debates que ele mantinha com seu tio Lucciano, despertou o interesse dos dois na área.

Napoleão Bonaparte, Carlo Bonaparte e Pasquale Paoli

Napoleão logo começou a demonstrar seu gênio apto à liderança e proativo. Mesmo sendo menor e mais novo do que seu irmão José, exercia o domínio durante as suas brincadeiras. Em certos momentos, obrigando-o a fazer o seu dever de casa.


Napoleão era descrito com as seguintes características:

  • Turbulento.

  • Combativo.

  • Nervoso.

  • Desatento (sobretudo com a aparência).

  • Inteligente.

  • Sagaz.

  • Dotado para a matemática.

  • Autoconfiante.

  • Obstinado.

Segundo seu biógrafo, Steven Englund, Napoleão também era afetuoso e propenso a sentimento de culpa, um menino que tendia a ver com bons olhos os que o acolhiam bem. A partir desse posicionamento que Carlo Bonaparte conseguiu no Governo Francês, foi possível conseguir enviar seu filho para se formar lá.


A formação militar de Napoleão Bonaparte (1779 - 1784)

Aos 9 anos de idade Napoleão Bonaparte foi enviado ao Collège de Autun, uma das mais bem conceituadas escolas francesas. Lá ele aprimorou o seu francês até ser transferido para uma das 12 escolas militares reais distribuídas pela França, a Escola Militar de Brienne.


Napoleão sempre demonstrou grande dificuldade com o francês, por isso ele ia mal nas disciplinas da área da Literatura. Além do mais, o seu convívio em Brienne era péssimo e fez com que, no futuro, ele escrevesse relatos dizendo que foi um momento de profunda infelicidade.


Essa infelicidade era respondida com agressividade. Zoado pelo seu sotaque italiano e diminuído por não fazer parte da alta nobreza francesa, Napoleão não se relacionava bem no colégio.


Esse distanciamento fez com que ele gastasse seu tempo em estudos militares e matemáticos, dando menos atenção para relações sociais e etiqueta. Assim, o jovem começou a demonstrar ser um verdadeiro prodígio.


Em 1784 ele foi matriculado na Escola Militar de Paris. Entrar nessa escola era tão difícil que, para isso, o estudante precisava da assinatura do ministro da Guerra e do próprio rei da França.


Foi nesse momento que as relações familiares começaram a pesar bastante, fazendo com que ele entrasse em alguns conflitos internos entre carreira e família.


A morte do pai de Napoleão (Carlo Bonaparte)

Quando Napoleão tinha apenas 15 anos, em 1785, o seu pai morreu. Essa tragédia além de abalar Napoleão sentimentalmente, desorganizou toda a estrutura financeira da família.


Ele sobrevivia na França com 1.100 francos anuais que recebia de soldo. Mesmo ganhando pouco, ele tentava fazer sobrar dinheiro para enviar à sua mãe na Córsega. A crise financeira dos Bonaparte tornavam-se cada vez mais intensa, até que seu tio Lucciano interveio para ajudar a família.


Ele ajudava com os custos da casa, porém, em 1791 faleceu. A sua herança foi responsável por finalizar a fase de penúria dos Bonapartes.


Quando Napoleão terminou a sua formação na École Royale, ele quis voltar para casa e ajudar a sua família mais de perto. Porém, isso não foi possível, pois foi imediatamente destacado para o regimento La Fère, lá, Napoleão viveu um dos melhores momentos da sua vida.


O nascimento de um gênio (Regimento La Fère - 1785)

O Regimento La Fère estava estacionado em Valença, ao sul da França. Napoleão se apresentou a ele no final de outubro de 1785. Ali, livre das obrigações e da grade horária muito fechada, Napoleão teve tempo para ativar seu gênio autodidata e mergulhar nos estudos.


Esses estudos sempre acabavam tocando em um assunto que, internamente, gerava uma forte crise em Napoleão: o amor à sua pátria.


O final do século XVIII era marcado pelo crescimento de pensamentos nacionalistas que vieram a atingir seu auge no século XIX e XX.


Napoleão se perguntava qual era a sua pátria e qual causa ele deveria comprar: a da França ou a da Córsega?


Com o passar da década de 1780, sinais daquilo que geraria a revolução francesa começaram a aparecer de maneira mais evidente. A Aristocracia perdendo espaço para a burguesia, começava a aprovar leis e tomar medidas que impunha de maneira mais arbitrária os seus privilégios.


Napoleão, apesar de ser nobre na Córsega, pertencia a uma nobreza muito baixa na França e sempre teve uma péssima relação com a alta aristocracia. Um movimento que ocorreu na Revolução Francesa, foi a junção entre a baixa nobreza e a burguesia por uma mudança na estrutura hierárquica do Antigo Regime na França.


Resumindo: quanto mais a aristocracia francesa forçava a barra com leis e sanções mais severas, mais ela polarizava contra uma baixa nobreza e a burguesia.


Essa guerra tornou a Europa um verdadeiro caldeirão de pólvora, principalmente na França. Enquanto a nobreza apelava mais para o sentimento de berço, as classes ascendentes encontravam na moda iluminista um embasamento intelectual para seu pensamento.


Quais eram as inspirações intelectuais de Napoleão Bonaparte?

Foi difícil para Napoleão decidir em quais autores ele iria se inspirar. Naquela época, os autores da moda eram os ligados ao iluminismo: Voltaire, Mably, Raynal, Ossian e vários outros que eram muito amados pelos jovens.


Napoleão começou a ler e se encher de Rousseau, porém, equilibrou com doses cavalares de Maquiavel. Hoje, uma das edições mais famosas de “O Príncipe” é a com os comentários de Napoleão Bonaparte.


Napoleão escrevia basicamente sobre 3 temas:

  • as crenças de política básica do autor.

  • sua crítica da religião e das Relações Igreja-Estado.

  • seus sentimentos e pensamentos relativos à Córsega.

Em 1788, Napoleão escreveu uma “Dissertation sur I’autorité royale”, onde ele dizia ver o poder monárquico como uma usurpação da soberania da sociedade.


Ainda em 1788, Napoleão escreveu um esboço de uma constituição para os oficiais, onde fica clara a sua forte defesa de um Estado forte, invasivo e formador do imaginário da sociedade.


Para Napoleão, o ideal seria o Estado ser capaz de criar crenças que substituíssem o cristianismo, pois esse era invasivo e causava desordem.


A volta de Napoleão à Córsega

Em 1786 ele foi para a Córsega, lá, com a doença de seu tio Lucciano e morte do seu pai, passou a ser o chefe da família. Mais atuante que seu irmão José. Mesmo com todas as obrigações, acordava às 4:00 para fazer as suas leituras e tinha longas caminhadas para trocar ideias com seu irmão mais velho.


José participava de ciclos de estudos paolistas, mas tinha uma certa resistência por ter uma ligação muito forte com a França, assim como Napoleão.


Toda a possibilidade de uma independência da Córsega ou qualquer outra questão política, foi fortemente abalado por um evento que ocorreu em 1789 e foi um divisor de águas na história de vida do Napoleão Bonaparte.


Napoleão e a Revolução Francesa

Ao contrário da grande maioria dos seus colegas de Brienne ou da Escola Militar de Paris, Napoleão não aderiu ao lado da resistência monarquista. Ele era um revolucionário, republicano e grande apoiador de Robespierre. Por isso foi um grande adepto da Revolução Francesa.


A França enfrentou guerras internas e externas. Ao mesmo tempo que as Nações vizinhas tentavam barrar a propagação do germe revolucionário, os camponeses e monarquistas resistiram ao novo governo, principalmente pelo seu anticatolicismo. Esses camponeses eram conhecidos como Le Chouans.


Nessas guerras, Napoleão começou a fazer fama. Virou lenda após a vitória em Toulon, ganhou respeito após o domínio da Itália e se consagrou na campanha do Egito.


Quando voltou do Egito, o já famoso Napoleão, conhecido por sua capacidade de liderar o exército e motivar os soldados, era uma das pessoas mais desejadas por aqueles que tinham um projeto de poder.


O cenário era caótico e muito confuso. Neojacobinos, conservadores e o Diretório se estranharam com outras dezenas de ideologias que sabiam que, em breve, alguma coisa iria mudar.


O atual governo era o Diretório e eles temiam um golpe que se anunciava, apenas não sabiam de onde viria. Quando Napoleão chegou, muitos dos que tinham algum projeto de poder, abandonaram sua ideia inicial para defender o nome do general. Parte da população o apoiava e o baixo oficialato clamava seu nome.


O conselho dos 500 sentiu essa movimentação e resolveu agir.


O que foi o golpe de 18 de Brumário?

O golpe de 18 de Brumário aconteceu em 09 de novembro de 1799, ele recebe esse nome pois a Revolução Francesa alterou a nomenclatura dos meses. O golpe foi responsável por derrubar o governo do Diretório e instituir Napoleão Bonaparte como o primeiro-cônsul da França, dando início à Era Napoleônica (1799 - 1815).


Quando Napoleão foi recebido com aquela pompa e um grande apoio popular, o conselho dos 500, que era a assembleia revolucionária da França, resolveu julgar a cassação de Bonaparte pela instigação de um golpe militar.


Eles se trancaram em uma sala para decidir e, fora dali, no pátio, estavam Napoleão Bonaparte, Luciano Bonaparte e centenas de soldados. Neste momento, preocupado com o resultado, Luciano Bonaparte fez um discurso que entrou para a História.


‘Cidadão soldados’, disse, usando a excelente fórmula revolucionária, ‘o presidente do Conselho dos Quinhentos vos comunica que a grande maioria do Conselho está, neste momento, sendo vítima do terror de um pequeno número de representantes armados com facas… e sem dúvida a soldo da Inglaterra.’ Advertiu granadeiros de que, se não fossem detidos, esses representantes restaurariam o Terror e decapitariam ‘algumas das cabeças mais necessárias da pátria’. ‘Em nome deste povo [francês] que, por tantos anos já, tem sido o joguete desses miseráveis filhos do Terror’, proferiu Luciano, ‘confio a vós, guerreiros’, a missão de libertar a maioria do Conselho das dacas da minoria”. (ENGLUD, 2005, p.188)


Depois de todo esse discurso, ele tomou uma atitude totalmente surpreendente. Sacou a sua espada e encostou no peito de seu irmão, Napoleão Bonaparte e disse:


“Juro cravar esta espada no peito de meu próprio irmão se um dia ele ameaçar a liberdade dos franceses.” (ENGLUD, 2005, p.188)


Depois dessa fala, os soldados se inflamaram, invadiram o conselho dos 500 e apoiaram Napoleão no golpe de Estado que o colocou como primeiro-cônsul e deu início à Era Napoleônica.


Neste momento, Napoleão já era o grande líder francês, famoso e temido. O bonapartismo se espalhou pela França e para além dela.


Esse conceito é definido como:


“(...) o bonapartismo é a forma de governo em que é desautorizado o poder legislativo, ou seja, o parlamento, que no Estado democrático representativo, criado pela burguesia, constitui o poder primário, e em que se efetua a subordinação de todo o poder ao executivo, dirigido por um grande personagem carismático, que se apresenta como representante direto da nação, como garante da ordem pública e como árbitro imparcial diante dos interesses contrastantes das classes.” (BOBBIO, 1994, p.118).


Depois disso, ainda muita água passou por baixo dessa ponte, mas esse artigo já está grande demais e já conseguimos atingir nosso objetivo de analisar como aquele garoto corso se tornou um dos líderes mais conhecidos do mundo.


Espero que tenham gostado e até o próximo artigo!


Autor: Luiz Ottoni - Historiador e produtor de conteúdos educacionais.


Referências:


ALVES, Adamo. OLIVEIRA, Marcelo. A História do conceito de bonapartismo: os bonapartes vistos por Tocqueville e Marx. Encontro Nacional do CONPEDI. Ceará, junho, 2010. Disponível em: < http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/anais/fortaleza/4084.pdf>. Acesso em: 02/06/2021 às 20:16.


BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política. Trad. Carmen C. Varriale, et all. Coord. da trad. João Ferreira e Luís Guerreiro Pinto Cascais - 6ª edição/ Brasília, DF; Editora Universidade de Brasília, 1994.


ENGLUD, Steven. Napoleão: uma biografia política. 1a ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.


HOBSBAWM, Eric. A era das revoluções: Europa 1789 - 1848. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 2a ed., 1979


RAMOS, Vanessa. Os comentários de Napoleão Bonaparte ao príncipe de Maquiavel, contidos em notas de rodapé. Plurais Virtual. Goiás, v.3, n.1, p.154-164, 2013. Disponível em: <https://core.ac.uk/download/pdf/230322686.pdf>. Acesso em: 02/06/2021 às 20:05.


SILVA, Daniel. O “encantamento” de Stendhal com Napoleão Bonaparte: aspectos de uma admiração. AnpuhMG. Juiz de Fora, julho, 2014. Disponível em: <http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/34/1401456146_ARQUIVO_Textofinal.pdf>.Acesso em: 02/06/2021 às 20:11.



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